Saúde mental e a pandemia de Covid-19

Saúde mental e o Covid-19

A agenda de saúde frente à pandemia engloba uma gama enorme de áreas que devem ser cobertas, mas é preciso chamar a atenção da comunidade médica e, também, da população para o risco de uma epidemia paralela, que já dá indícios preocupantes: o aumento do sofrimento psicológico, dos sintomas psíquicos e dos transtornos mentais. Embora o impacto da disseminação do coronavírus para as doenças psíquicas ainda esteja sendo mensurado, as implicações para a saúde mental em situações como a que estamos vivendo já foram relatadas na literatura científica.

É possível dividir as consequências da pandemia em quatro ondas:

 

– a primeira se refere à sobrecarga imediata sobre os sistemas de saúde em todos os países que tiveram que se preparar às pressas para o cuidado dos pacientes graves infectados pela Covid-19;
– a segunda está associada à diminuição de recursos na área de saúde para o cuidado de outras condições clínicas agudas, devido a realocação de verba para o enfrentamento da pandemia;
– a terceira tem relação com o impacto da interrupção nos cuidados de saúde de várias doenças crônicas;
– a quarta inclui o aumento de transtornos mentais e do trauma psicológico provocados diretamente pela infecção ou por seus desdobramentos secundários.

Saúde mental:

 

As pessoas reagem de maneira diferente a situações estressantes. Como cada um responde à pandemia pode depender de sua formação, da sua história de vida, das suas características particulares e da comunidade em que vive. Os grupos que podem responder mais intensamente ao estresse de uma crise incluem:

– pessoas idosas ou com doenças crônicas que apresentam maior risco se tiverem Covid-19;
– profissionais de saúde que trabalham no atendimento à Covid-19;
– pessoas que têm transtornos mentais, incluindo problemas relacionados ao uso de substâncias.

O aumento dos sintomas psíquicos e dos transtornos mentais durante a pandemia pode ocorrer por diversas causas. Dentre elas, pode-se destacar a ação direta do vírus da Covid-19 no sistema nervoso central, as experiências traumáticas associadas à infeção ou à morte de pessoas próximas, o estresse induzido pela mudança na rotina devido às medidas de distanciamento social ou pelas consequências econômicas, na rotina de trabalho ou nas relações afetivas e, por fim, a interrupção de tratamento por dificuldades de acesso.

Esses cenários não são independentes. Ou seja, uma pessoa pode ter sido exposta a várias destas situações ao mesmo tempo, o que eleva o risco para desenvolver ou para agravar transtornos mentais já existentes.

O distanciamento social alterou os padrões de comportamento da sociedade, com o fechamento de escolas, a mudança dos métodos e da logística de trabalho e de diversão, minando o contato próximo entre as pessoas, algo tão importante para a saúde mental.

O convívio prolongado dentro de casa aumentou o risco de desajustes na dinâmica familiar. Além disso as reduções de renda e o desemprego, que pioram ainda mais a tensão sobre as famílias. E, ainda, as mortes de entes queridos em um curto espaço de tempo, juntamente à dificuldade para realizar os rituais de despedida, dificultando a experiência de luto e impedindo a adequada ressignificação das perdas, aumentando o estresse.

Algumas reações são comuns:

 

medo de ficar doente e morrer;
– evitação de procurar um serviço de saúde por outros motivos, por receio de se contaminar;
– preocupação com a obtenção de alimentos, remédios ou suprimentos pessoais;
– medo de perder a fonte de renda, por não poder trabalhar, ou ser demitido;
– alterações do sono, da concentração nas tarefas diárias, ou aparecimento de pensamentos intrusivos;
– sentimentos de desesperança, tédio, solidão e depressão devido ao isolamento;
– sentir-se impotente em proteger as pessoas próximas, ou medo de ser separado de familiares por motivo de quarentena/isolamento;
– preocupação com a possibilidade de o indivíduo ou de membros de sua família contraírem a Covid-19 ou a transmitirem a outros;
– receio pelas crianças em casa não receberem cuidados adequados em caso de necessidade de isolamento;
– risco de deterioração de doenças clínicas e de transtornos mentais prévios ou, ainda, do desencadeamento de transtornos mentais;
– medo, ansiedade ou outras reações de estresse ligadas a notícias falsas, alarmistas ou sensacionalistas, e mesmo ao grande volume de informações circulando.

Dicas que podem ajudar a aumentar o bem-estar neste período:

 

– Planeje uma rotina mesmo que fique dentro de casa: mantenha horários regulares para se levantar e se deitar; mantenha os cuidados usuais e rotinas de alimentação.
– Se estiver em trabalho remoto, faça pausas e se movimente durante o período de trabalho. Sugere-se pausas de 5 minutos a cada 1 hora de trabalho e, preferencialmente, que as pausas sejam ativas.
– Identifique pensamentos intrusivos, repetitivos e catastróficos que levem à ansiedade; aceite que eles existem, mas que não necessariamente correspondem à realidade. Descubra o que funciona para seu alívio.
– Evite ler ou ouvir demais sobre o tema, busque se informar sobre outros assuntos e evite notícias sensacionalistas ou que tragam ansiedade; use as informações para planejar ações práticas.
– Questione e verifique todas as notícias que receber e não repasse o que não for oficialmente confirmado. Reserve um ou dois momentos do dia para se informar.
– Não discrimine alguém que esteja doente. Ajude-o com orientações para a prevenção da transmissão a outras pessoas.
– Não procure países ou etnias responsáveis pela pandemia. Discriminar pessoas por sua nacionalidade é xenofobia e produz sofrimento psíquico.
– Proteja suas crianças, sem fomentar nelas o medo ou o pânico. Ensine de forma lúdica e simples como elas podem se proteger.
– Proteja seus idosos, informando-os sobre os cuidados necessários diante da pandemia. Acolha os medos e auxilie com as dúvidas que possam surgir.
– Foque em comportamentos preventivos que estão sob seu controle: lavar as mãos, manter distanciamento social, seguir rigorosamente as recomendações das autoridades de saúde.
– Mantenha o uso das suas medicações regulares, verifique se vai precisar de nova receita ou compra e, se preciso, entre em contato com seu médico. Mesmo que seja necessário adiar consultas ou exames, não deixe de se cuidar.
– Verifique onde pode conseguir auxílio para questões práticas, como atendimento médico, serviços de transporte, entrega de alimentos ou outras compras; acione seus contatos se precisar de ajuda.
– Evite o uso de álcool e outras drogas.
– Faça atividades relaxantes como meditar, escutar música, assistir filmes, ler livros, fazer cursos online.
– Organize armários, separe roupas e objetos para doação; faça pequenos reparos em casa; arrume fotos, limpe caixas de e-mails, organize arquivos do celular.
– Cultive os laços afetivos: aproveite a convivência familiar; mantenha contato com amigos por mensagens, ligações ou vídeos. Telefone para alguém com quem não conversa há muito tempo.
– Busque formas de ajudar a sua comunidade, incluindo familiares, vizinhos, trabalhadores. A solidariedade e a cooperação auxiliam os dois lados e aumentam a satisfação e os vínculos sociais.
– Encontre oportunidades para conhecer e divulgar histórias positivas e imagens de pessoas que se recuperaram da doença e queiram dividir sua experiência.
– Lembre-se de que as restrições impostas no momento são também para cuidar de você, de sua família e evitar contaminações.
– Aceite o momento presente, mas lembre-se de que vai passar.
– Reconheça o esforço dos profissionais de saúde, segurança, limpeza e outros serviços essenciais que continuam trabalhando para que você fique bem.
– Se estiver em sofrimento intenso, busque ajuda profissional de psicólogos e psiquiatras: há profissionais e serviços disponíveis mesmo à distância.

Fontes: Biblioteca Virtual em Saúde